Neste mês de prevenção ao Câncer de Mama e de Colo de Útero, o Hospital Regional São Paulo (HRSP), alerta sobre a importância dos exames preventivos e também da saúde emocional. Conforme o setor de Psicologia Clínica, estudos apontam que, no geral, as mulheres sofrem com maior sobrecarga de responsabilidades – situação que provoca níveis de estresses elevados e acende o alerta para o risco de problemas de saúde. Outro ponto de conscientização é sobre o comportamento de apoio, à uma pessoa com diagnóstico de câncer.
Carolina Kist, psicóloga clínica do HRSP, explica que o câncer é uma doença que está ligada à vários pontos, tanto imunológicos, como hormonais, químicos, biológicos, radiações, ao estresse e a genética. A evolução de cada caso é única e depende de fatores externos e psicológicos. “Estudos recentes apontam que pacientes com câncer tiveram suas vivências associadas a traumas, situações negativas, conflitos constantes, lutos complicados e sentimentos de mal-estar como raiva e tristeza. Predispondo o organismo a várias enfermidades, inclusive o desenvolvimento do câncer,” explica.
Quando há o diagnóstico da doença, é importante que o paciente e os familiares tenham acompanhamento de um profissional da psicologia. “O profissional irá auxiliá-los a elaborar o adoecimento, acolhendo-os, orientando-os e melhorando consideravelmente o quadro saúde/doença do paciente, diminuindo o tempo de hospitalização, resinificando seus sentimentos e dando sentido a nova vida,” esclarece Carolina Kist.
Para algumas pessoas, o simples fato de falar sobre o câncer, já é algo que assustada. Por isso, a psicóloga clínica do HRSP, respondeu algumas perguntas sobre como a família pode apoiar a pessoa que tiver o diagnóstico e sobre atos que devem ser evitados. Confira!
Muitas mulheres deixam de fazer exames preventivos e algumas até tem medo de falar sobre o câncer. Como é possível trabalhar esse aspecto? De que maneira, cada mulher deve trabalhar esse medo?
Os principais motivos para não realizar os exames geralmente são a falta de tempo e acreditar que “nunca irei receber um diagnóstico de câncer”. Enfrentar o diagnóstico de câncer nos leva a pensar em finitude e no medo de sofrer. É um momento de estresse que traz um mundo novo, uma rotina nova, que é assustadora e preocupante. É importante ficarmos atentos aos primeiros sintomas. Quanto mais cedo o diagnóstico for feito e o tratamento iniciado, melhor será para o paciente e seus familiares. Sendo que, olhar para o lado emocional é necessário e deve fazer parte do tratamento desde o início.
Há relatos de mulheres, que ao serem diagnosticadas com câncer, sofrem com o sentimento de dó, expresso pela sociedade e às vezes, pela própria família. Isso provoca constrangimento e um sentimento de impotência, fraqueza e inferiorização. Mas como, a família pode acolher essa mulher e dar força para que siga com o tratamento?
Enquanto familiar, você pode perguntar como a pessoa está. Pergunte se ela quer falar sobre o assunto. Pergunte o que você pode fazer para ajudá-la. Seja sincero, diga que não sabe o que dizer, mas que ela pode contar com você. Se ofereça para ouvi-la e se coloque presente. Não somos os mesmos em diferentes ciclos da vida, por que esperar que sejamos os mesmos após uma experiência de doença? É preciso coragem para mudar o que precisa. E é essa dose de coragem que permite ao paciente e familiares se reconhecerem neste novo lugar, lugar inédito, cheio de dúvidas. Lembre-se essa experiência também é sua história!
A queda de cabelos é algo que abala as mulheres em tratamento do câncer. Muitas optam por usar lenços, perucas ou assumem a imagem careca. Como essas mulheres podem lidar com essa situação?
No diagnóstico de uma doença ameaçadora de vida, precisa-se também considerar a concepção de “eu” do paciente, o que o caracteriza como ser único e subjetivo. Como o sujeito constituiu seu corpo desde o inicio de sua existência? As modificações corporais geradas pelo adoecimento provocam um maior sofrimento durante o tratamento. Por esse motivo precisamos reconstruir e ressignificar essas transições com o paciente
Os pacientes oncológicos convivem com perdas diárias, perda da saúde, do corpo e perdas sociais. Nesse sentido, devemos salientar que a vivência do câncer repercute numa perda maior que a física, mas numa perda de si mesmo. E essas perdas constantes fazem com que o mesmo vivencie o luto antecipatório. A maneira como o indivíduo lida com a situação vai além do “estar doente”. Ele precisa falar de si, do que faz sentido pra ele, da dor. Esse sofrimento precisa ser sentids, precisa se dar algum sentido, um significado. É preciso entrar em contato com sua própria finitude, reconhecer a vida e a morte e ressignificar seus sentimentos, dar nome e lugar a eles e torná-los toleráveis para encontrar formas de viver a vida, reconstruindo sua visão de si.
Ter um familiar em tratamento contra o câncer dentro da família, é algo impactante para todos os integrantes. Como explicar a doença e o tratamento para as crianças?
Cada família, dentro da sua cultura e religião, deve informar a criança oferecendo suporte para ela lidar e expressar sua dor. Cada sujeito lida com suas perdas de forma individual e as crianças não são diferentes. Devemos considerar o nível de desenvolvimento e compreensão da criança, sua capacidade cognitiva e emocional. Ser honesto, sem mentiras ou atenuações, contar a verdade sobre a situação. Tentar explorar e responder às suas ideias e dúvidas para que seus medos e suas fantasias sejam esclarecidos. É importante que esses passos sejam repetidos e enfatizados com o tempo. A criança é capaz de assimilar a situação e se mobilizar com a nova realidade, de modo que contar a verdade é importante para que ela possa realizar seu próprio processo de forma natural.
Perguntas e comentários inoportunos também ferem a pessoa que já está fragilizada e sofrendo por conta da doença. Como se referir com respeito à pessoa com diagnóstico de câncer? Que tipo de questionamentos devem ser evitados?
Pergunte: como vão as coisas? Não indague sobre o tratamento ou se o câncer é curável. Não conte histórias a seu respeito ou de outros pacientes e não diga a pessoa o que ela deve pensar, sentir ou fazer. A forma que os pacientes enfrentam, se adaptam e resinificam seu adoecimento pode desencadear estresse durante o tratamento ou a melhora do seu quadro de sobrevida.
Evite fazer afirmações como:
“Você não tem câncer. Isso não lhe pertence: Diga ‘eu estou curada,’ em nome de Jesus;”
“Você não deveria estar comendo isso. Dá câncer.”
“O cunhado da prima do namorado da minha afilhada, morreu disso”.
“Nossa! Seu cabelo vai cair?”.
“Nossa, mas você é tão jovem. Que doença maldita!.”
“Nossa! Nem parece que você está doente. Você parece tão bem”.
As emoções que emergem no contexto do adoecimento provocam um desequilíbrio biopsicossocial tanto do paciente quanto dos familiares. Onde eles preciam elaborar o adoecimento e se adaptar ao tratamento e a nova vida, de forma a amenizar o sofrimento do paciente, acolhendo-o e orientando-o, e considerando suas potencialidades, autonomia e propiciar a melhor relação entre familiares, influenciando sentimentos positivos e propiciando um melhor bem-estar com sua experiência de finitude e o sentido de vida e morte.
Sobreviver é um processo complexo que depende dos aspectos subjetivos e da relação familiar do paciente. Sendo que muitas vezes as consequências sociais e psicológicas são mais debilitantes do que a própria doença física. Por isso, é importante que um profissional da psicologia acompanhe o paciente e os familiares no tratamento do câncer.