Esta sexta-feira (27) é um dia especial para se falar sobre a importância da doação de órgãos. A data foi escolhida como Dia Nacional de Doação de Órgãos e Tecidos, quando diversas ações são realizadas e buscam conscientizar a população sobre o assunto. No Hospital Regional São Paulo (HRSP) o tema foi abordado por meio de uma palestra, organizada pela Comissão Hospitalar de Transplantes (CHT). Um dos pontos mais emocionantes, foi o depoimento do paciente Dagoberto Dondé, que passou por dois transplantes de rim.

A palestra foi realizada no auditório da entidade, voltada a colaboradores e estagiários que atuam na instituição. As coordenadoras de enfermagem Maryellen Cazeraghi e Vanessa Piccoli, que integram a CHT, explicaram o processo identificação de um possível doador, como ocorre a abordagem a família do potencial doador e a logística para que um transplante seja realizado. A intenção é capacitar a equipe que atua na instituição.

Após a palestra, Dagoberto Dondé e a esposa Marinês Coldebela Dondé expuseram para a equipe a história de superação da família, com dois transplantes realizados e 19 anos de hemodiálise. “Com o depoimento buscamos mostrar para a nossa equipe multiprofissional o outro lado da doação de órgãos, que eles não estão acostumados a ver, que é a espera por um transplante”, frisou Maryellen.

 

 

Conheça a história de Dagoberto

Aos 21 anos Dagoberto passou a apresentar problemas no rim, quando iniciaram as sessões de hemodiálise, como o passar do tempo ele passou a apresentar também problemas cardiológicos, que levaram ao primeiro transplante, realizado em agosto de 2005. O rim foi doado pela própria esposa Marinês Coldebela Dondé, que era compatível. Após o procedimento, com boa recuperação, Dagoberto passou a levar uma vida normal.

 “Consegui viver bem por três anos, quando então a doença retornou ao rim, um pouco também pelo meu descuido. Foi então que tive que retornar para a hemodiálise, o que foi bastante complicado, pois eu havia retornado a vida normal, tomava bastante líquido, fazia refeições junto com a minha família como qualquer pessoa. Ao retornar para a máquina de hemodiálise tive que abrir mão de muitas coisas e com o passar dos anos a minha saúde foi se agravando num quadro geral, tive problemas de coração e de pulmão”, relata o paciente.

O segundo transplante só ocorreu em 2016. Dagoberto lembra até hoje da madrugada do domingo 22 de maio, quando a família recebeu a ligação de que a Central de Transplantes havia recebido um rim compatível com ele. A doação veio de uma idosa que foi a óbito na região de Blumenau e que, felizmente, a família havia autorizado a doação de órgãos.

“Eu já não tinha mais esperança de receber um órgão devido ao tempo de hemodiálise que eu já tinha: 19 anos. Isso tinha consumido com toda a esperança que eu tinha de fazer um transplante de um doador não vivo.   Recebemos a notícia com muita alegria, mas ao mesmo tempo com um misto de preocupação, de medo e de euforia. Foi uma loucura, uma coisa mágica”, relembra ele. 
 

O dia do transplante é lembrado por Dagoberto como um dia de muita adrenalina. Logo cedo, antes das 7 horas da manhã, ele já estava no hospital para realizar os exames pré-operatórios que são necessários para o transplante. Às 11 horas ocorreu a internação, que foi seguida pela sessão de hemodiálise. O paciente já estava preparado para ir para o centro cirúrgico quando veio a notícia que o avião que traria o rim não havia conseguido pousar em Chapecó por causa da neblina.

“Eu lembro de ter pedido para ter alta e voltar para casa, não queria mais passar por aquilo, estava muito angustiado e com vontade de desistir de tudo, pois sempre três possíveis receptores são avisados, então eu sabia que outras duas pessoas estavam nos bastidores, torcendo por esse mesmo órgão. Achei que não iriam reenviá-lo para mim. Graças a Deus deu tudo certo, recebi a notícia de que a Central de Transplantes iria mandar o meu rim via terrestre, com um carro”, conta Dagoberto.

No mesmo domingo, às 23 horas, Dagoberto foi encaminhado para o Centro Cirúrgico, enquanto o rim ainda estava a caminho. O transplante encerrou somente às 3 horas da madrugada da segunda-feira e foi um sucesso. Depois de algumas horas na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), ele foi encaminhado para o quarto, onde permaneceu em recuperação até o sábado 28 de maio de 2016 e então recebeu alta.

“Eu peço a todos que façam um ato de amor e doem. Não deixem as pessoas sofrendo, como no meu caso, numa sala de hemodiálise. É muito complicado, há restrições e sofrimento. Muitas vezes a doação pode ocorrer ainda em vida, entre os próprios familiares. É um ato de amor, façam isso, a coisa mais grandiosa é o amor pela pessoa que está sofrendo. Pratiquem mais a doação”, reforçou Dagoberto.

 

 

Entenda mais sobre a Doação de Órgão e tecidos  

O que é?
O transplante é um procedimento cirúrgico que consiste na reposição de um órgão (coração, pulmão, rim, pâncreas, fígado) ou tecido (medula óssea, ossos, córneas) de uma pessoa doente (receptor), por outro órgão ou tecido normal de um doador vivo ou morto.

O que preciso fazer para ser um doador?
É preciso avisar sua família sobre seu desejo solidário de se tornar um doador após a morte. Não é necessário deixar a vontade expressa em documentos ou cartórios, basta que sua família atenda ao seu pedido e autorize a doação de órgãos e tecidos.

Quais são os tipos de doador?
Existem dois tipos de doadores: os vivos e os falecidos. Doador vivo é qualquer pessoa saudável e capaz, nos termos da lei, que concorde com a doação e que esteja apta a realizá-la sem prejudicar sua própria saúde. O doador vivo pode doar um dos rins, parte do fígado ou dos pulmões e medula óssea.
Doador falecido é qualquer pessoa identificada cuja morte encefálica ou parada cardíaca tenham sido comprovadas e cuja família autorize a doação. O doador falecido por morte encefálica pode doar fígado, rins, pulmões, pâncreas, coração, intestino delgado e tecidos. O doador falecido por parada cardíaca pode doar tecidos: córneas, pele, ossos, tendões, vasos sanguíneos etc.

Posso ter certeza do diagnóstico de morte encefálica?
Sim. No Brasil, o diagnóstico de morte encefálica é regulamentado por uma Resolução do Conselho Federal de Medicina, que determina serem necessários dois exames clínicos realizados por médicos diferentes e um exame complementar (gráfico, metabólico ou de imagem).

Para quem vão os órgãos?
Os órgãos doados vãos para pacientes que necessitam de transplante e estão aguardando em uma lista de espera unificada e informatizada, em uma mesma base de dados. Cabe à Central Estadual de Transplantes/SC Transplantes, por meio desse sistema, gerar a lista de receptores compatíveis com o doador em questão.
Se não existirem receptores compatíveis ou o estado não realizar a modalidade de transplante referente ao órgão doado, o órgão é ofertado à Central Nacional de Transplantes CNT/MS para a distribuição nacional.
A posição na lista de espera é definida por critérios técnicos de compatibilidade entre doador e receptor (tais como a compatibilidade sanguínea, antropométrica, gravidade do quadro e tempo de espera em lista do receptor). Para alguns tipos de transplantes é exigida, ainda, a compatibilidade genética.

Após a doação, o corpo do doador fica deformado?
Não. Após a retirada dos órgãos, é feita a recomposição do corpo e o doador poderá ser velado normalmente.

(Com informações de saude.gov.br)