Tarde de quinta-feira, 17 de dezembro de 2020. O Hospital Regional São Paulo (HRSP), de Xanxerê, escreve mais um capítulo da sua história da modernização no atendimento cardiovascular para o Oeste Catarinense. A data marca a realização de um procedimento inédito na instituição, conhecido como TAVI (Transcatheter Aortic Valve Implantation, no português “Tratamento Transcateter da Valva Aórtica”).  Trata-se de uma forma menos invasiva de tratamento da estenose aórtica, recomendado especialmente para pacientes de risco para a cirurgia convencional.

Para realizar o primeiro procedimento na instituição, as equipes de Cirurgia Cardiovascular e Hemodinâmica do HRSP foram orientadas por profissionais de São Paulo, que estiveram em Xanxerê especialmente para a cirurgia. Atuou como proctor da cirurgia a PhD em Cirurgia Cardiovascular, Dra. Magaly Arrais, que atua desde 2008 com a técnica. Ela também foi acompanhada por uma profissional técnica para a preparação da prótese.
 
“Esse é um procedimento utilizado nos pacientes que têm uma doença na válvula aórtica, que é a válvula que separa o ventrículo esquerdo da aorta. A aorta é o vaso arterial que distribui sangue para o corpo inteiro, inclusive para o próprio coração. Essa válvula que abre e fecha o tempo todo, em cada batimento cardíaco, e com a idade os pacientes tendem a ter uma degeneração, e a válvula fica estenosada, é como se fosse uma porta emperrada, então ela não abre direito, o que prejudica o coração e o corpo inteiro”, explica a cirurgiã cardiovascular.

O problema faz com que o sangue não chegue ao corpo para nutrir os tecidos da maneira como deveria, fazendo com que o paciente evolua com sintomas como a insuficiência cardíaca, cansaço, má perfusão do coração – que é quando o paciente tem angina, aquela dor no peito -, além de má perfusão do cérebro, em que o paciente chega a desmaiar.

O paciente que passou pelo procedimento é um homem de 89 anos, que apresentava sintomas graves da doença.  “O paciente de hoje tinha sintomas graves de insuficiência cardíaca, já estava há algum tempo em tratamento clínico e tinha feito vários procedimentos anteriores para tentar controlar clinicamente, mas não existe um tratamento efetivo. As opções são a cirurgia convencional ou o TAVI.  O problema é que a cirurgia em pacientes acima de 80 anos é um procedimento de risco, por abrir o tórax”, complementa.
 
 

O procedimento

Conforme Dra. Magaly Arrais, o TAVI foi feito pela primeira vez no mundo em 2002, na França e chegou ao Brasil em 2008. Houve um grande desenvolvimento das técnicas, das diversas próteses.  O implante da prótese aórtica transcateter foi desenvolvido como alternativa menos invasiva aos pacientes com contraindicação ou risco elevado para cirurgia convencional.

O procedimento consiste em colocar uma prótese no anel valvar aórtico. O implante da prótese é realizado por punções na virilha, no Setor de Hemodinâmica. A prótese é guiada por um cateter através da aorta, até ser posicionada no local. Ela vem compactada em um dispositivo que libera a prótese e, uma vez posicionada, confirma-se sua localização com a ecocardiografia e pequenas injeções de contraste. Em seguida, retira-se o cateter, terminando o procedimento.

“Primeiro é passado um dispositivo que abre o espaço na valva e depois vai outro com a prótese. A prótese usada no procedimento se chama balão-expansível, ela tem um stend, que é uma liga de cromo-cobalto, e ela vai crimpada nesse stend com os folhetos da válvula, que são folhetos de pericárdio bovino, por cima de um balão. Na hora que você posiciona dentro da válvula doente, o balão é insuflado, o que vai liberar a prótese para que ela comece a funcionar, substituindo a válvula doente desse paciente”, detalha a cirurgiã cardiovascular.
 

O procedimento realizado no HRSP teve em torno de duas horas de duração e contou com uma ampla gama de profissionais entre cirurgiões cardiovasculares, hemodinamicistas, cardiologistas clínicos, anestesistas, enfermeiros e técnicos em enfermagem.  Após o TAVI, o paciente foi encaminhado diretamente a UTI Geral da instituição e, atualmente, encontra-se hospitalizado na Ala de Internação, onde se recupera do procedimento.

“É de praxe vir um proctor, que é um profissional com uma larga experiência na área, para iniciar a nossa experiência aqui, nos trazendo mais um item no nosso arsenal terapêutico para esses pacientes mais delicados.  Foi um sucesso o resultado imediato do procedimento e estamos contentes em proporcionar isso para a população da nossa região”, comenta o cirurgião cardiovascular do HRSP, Leonardo Lacava Lopes.

O procedimento ainda não é ofertado pelo SUS e por alguns planos de saúde, porém é oferecido de maneira privado. “A TAVI é mais uma opção terapêutica para os pacientes com risco cirúrgico elevado. A equipe da Cirurgia Cardiovascular do HRSP hoje está capacitada a realizar tanto cirurgias convencionais, como as cirurgias endovasculares e minimamente invasivas. É um passo importante na história desse hospital e que seja a primeira de muitas”, finaliza o cirurgião cardiovascular do HRSP, Pedro de Araújo Godinho.